O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar, nesta terça-feira (3), as manifestações do governo dos Estados Unidos contra a atuação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Eu vou dizer o que eu penso, e o que eu pensar vai ser a decisão do governo. Primeiro, é inadmissível que um presidente de qualquer país do mundo dê palpite sobre a decisão da Suprema Corte de um outro país. Se você concorda ou não concorda, silencie. Porque não é correto dar palpite”, afirmou.
Lula acrescentou: “Eu acho que os Estados Unidos precisam compreender que o respeito à integridade das instituições de outros países é muito importante. Porque nós achamos que um país não pode ficar se intrometendo na vida do outro, querendo punir um outro país. Isso não tem cabimento.”
O presidente também fez duras críticas à atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos, licenciado do mandato, e se reunindo com autoridades norte-americanas para solicitar sanções contra autoridades brasileiras. Essa conduta é alvo de um inquérito aberto na última semana pela Procuradoria-Geral da República.
“Por enquanto, o que nós temos é fala de pessoas, mas pode ficar certo de que o Brasil vai defender não só o seu ministro [Moraes], mas a Suprema Corte. O que é lamentável é que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, está lá a convocar os Estados Unidos a se meter na política externa do Brasil.”
Lula qualificou a atitude como “grave” e “uma prática terrorista. Uma prática antipatriótica. O cidadão que é deputado pede licença do seu mandato para ir ficar tentando lamber as botas do Trump e de assessores do Trump pedindo intervenção na política brasileira. Não é possível aceitar isso.”
Ele concluiu: “É preciso que haja o mínimo de bom senso. Se essa gente pensa que vai ganhar a consciência da sociedade com mentira, é um ledo engano.”
A declaração do presidente faz referência a um ofício enviado pelo governo norte-americano ao Ministério da Justiça brasileiro, em resposta às decisões judiciais que levaram ao bloqueio de redes sociais americanas no Brasil. Segundo o Ministério da Justiça, o documento tem caráter meramente informativo e não implicará em qualquer encaminhamento.
Nos bastidores da diplomacia brasileira, o movimento é considerado atípico, mas já é visto como um “novo normal” do governo Trump. Fontes do governo informam que o ofício foi enviado diretamente do Departamento de Justiça dos EUA ao Ministério da Justiça do Brasil, sem passar pela embaixada norte-americana no país.
No domingo (1º), Lula já havia criticado o que chamou de represálias contra Moraes, em decorrência da intenção do ministro de prender Eduardo Bolsonaro. “Que história é essa de os Estados Unidos querer negar alguma coisa, e criticar a Justiça brasileira. Eu nunca critiquei a Justiça deles. Ele faz tanta barbaridade, eu nunca critiquei. Faz tanta guerra, mata tanta gente. Por que que eles vão querer criticar o Brasil”, declarou.