Em vitória para os EUA, empresa de Hong Kong diz que venderá portos no Panamá para a BlackRock

O negócio ocorre após pressões do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a crescente influência chinesa na vital via navegável.


A BlackRock concordou em adquirir dois portos importantes no Canal do Panamá, pertencentes à empresa com sede em Hong Kong, CK Hutchison, como parte de um acordo no valor de US$ 22,8 bilhões. O negócio ocorre após pressões do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a crescente influência chinesa na vital via navegável.

Segundo o acordo, o proprietário dos portos, CK Hutchison, venderá o negócio a um consórcio composto pela BlackRock, Global Infrastructure Partners e Terminal Investment Limited. A transação resultará na aquisição de 90% da empresa que possui e opera os dois portos no Panamá. Trump sempre alegou que “a China está controlando o Canal do Panamá”, o que levou a um aumento das tensões. No início deste ano, o presidente chegou a ameaçar “retomar o canal sob controle americano”.

Em resposta à pressão de Trump, a administração do Panamá foi instruída a reduzir a influência chinesa no canal, com alegações de que a presença de Pequim nos portos violava um tratado de neutralidade do local. O acordo anunciado também inclui a compra de 80% das subsidiárias portuárias da CK Hutchison, que operam 43 portos em 23 países, incluindo no Reino Unido, Alemanha, Sudeste Asiático, Oriente Médio, México e Austrália. Os 20% restantes são mantidos pelo operador portuário PSA, que pertence ao fundo soberano de Singapura, Temasek.

A CK Hutchison espera receber mais de US$ 19 bilhões em dinheiro com o acordo, o que inclui o reembolso de empréstimos de acionistas. A empresa tem uma capitalização de mercado de HK$ 148 bilhões (cerca de US$ 19 bilhões, ou R$ 11 bilhões). A venda foi considerada após a vitória eleitoral de Trump, com suas frequentes ameaças sobre a retomada do controle do canal. Isso levou a CK Hutchison a ponderar a venda, iniciando um curto e intenso período de negociações, de acordo com fontes familiarizadas com o processo.

Uma dessas fontes afirmou que, quando Trump assumiu a presidência e começou a falar sobre anexar o Panamá, além de outros territórios como a Groenlândia e o Canadá, a pressão sobre o governo panamenho aumentou. “A CK Hutchison percebeu que era uma dor de cabeça política e queria agir”, disse a fonte.

Para evitar complicações políticas, o CEO da BlackRock, Larry Fink, se reuniu com líderes seniores da administração Trump, incluindo o próprio presidente, para garantir o apoio dos Estados Unidos à aquisição. “O consórcio não avançaria com sua oferta se acreditasse que o governo dos EUA não apoiasse o acordo”, acrescentou uma das fontes.

A CK Hutchison, controlada pelo magnata Li Ka-shing, é uma das maiores operadoras de portos do mundo e também possui negócios em áreas como varejo e telecomunicações. As operações portuárias da empresa representaram cerca de 9% da sua receita total, que foi de HK$ 461,6 bilhões (aproximadamente US$ 59 bilhões) em 2023. Desde 1997, a empresa gerencia os portos nas extremidades do Canal do Panamá, sob concessões do governo panamenho.

O Canal do Panamá, que foi administrado pelos Estados Unidos desde sua inauguração em 1914 até sua transferência total para o Panamá em 1999, tem sido um ponto sensível nas relações internacionais. Trump e outros políticos dos EUA frequentemente alegaram que a presença da CK Hutchison nos portos significava que a China exercia um controle indireto sobre o canal.

As instalações portuárias operam principalmente como terminais de “transbordo”, onde contêineres são transferidos entre navios que atravessam o canal e navios menores que os levam a destinos ao redor do Caribe e da América Latina. Em 2022, a CK Hutchison renovou sua concessão para continuar operando os portos por mais 25 anos, consolidando seu papel vital no comércio global.