Lésbica, mãe de dois filhos e casada com uma imigrante: quem é Alice Weidel, líder da AfD?

Enquanto defende o endurecimento das políticas migratórias e o retorno aos “valores tradicionais”, Alice Weidel mantém uma vida privada que contraria os princípios da extrema-direita alemã.


As eleições federais da Alemanha aconteceram no último fim de semana, resultando em uma vitória para os conservadores Democratas Cristãos (CDU) e sua legenda irmã da Baviera, a União Social Cristã (CSU). Juntos, eles conquistaram o maior número de cadeiras e agora trabalham para formar um governo de coalizão.

A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita, obteve seu melhor desempenho eleitoral, tornando-se a segunda maior força política do país. É a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que uma legenda dessa orientação alcança tal posição, embora seja improvável que participe da coalizão governista.

A campanha da AfD focou em temas como imigração, segurança pública e aumento dos custos de energia, promovendo o que chama de “valores familiares tradicionais”. O partido foi fundado em 2013 com um discurso econômico e fiscal, mas mudou seu foco para migração a partir da crise dos refugiados de 2015.

Alice Weidel, copresidente da AfD desde 2022, é uma figura incomum dentro do partido. Lésbica e mãe de dois filhos, ela mantém um relacionamento com Sarah Bossard, uma produtora de cinema nascida no Sri Lanka e adotada por um casal suíço. Apesar disso, Weidel defende um modelo familiar “tradicional” e afirma que a legalização do casamento homoafetivo não é uma prioridade para ela.

A líder da AfD nasceu em Gütersloh e estudou em Bayreuth. Trabalhou no Goldman Sachs e no Banco da China antes de ingressar na política, vivendo seis anos na China. Inicialmente atraída pela postura econômica do partido, ela endossou sua guinada à direita, defendendo políticas migratórias rígidas e o nacionalismo alemão.

Weidel já declarou que a imigração na Alemanha resulta em “burcas, garotas com lenços na cabeça, homens armados de faca recebendo benefícios sociais e outras pessoas imprestáveis”. Ela exige “repatriações em larga escala” e considera a Alemanha uma “vítima da guerra na Ucrânia”. Além disso, questiona vacinas contra a Covid-19, nega as mudanças climáticas e ecoa a teoria da “grande substituição”, segundo a qual imigrantes estariam substituindo populações nativas.

Recentemente, em um bate-papo com o bilionário Elon Musk, Weidel afirmou que os nazistas “não eram de direita” e chamou Hitler de “comunista e socialista”. A declaração ignora o fato de que comunistas e socialistas foram perseguidos pelo regime nazista.

Na última semana, Weidel gerou nova controvérsia ao dizer na emissora ARD que a cultura de memória do Holocausto na Alemanha é um “culto à culpa” e classificou a associação de seu partido com o passado nazista como “irritante”. O comentário reforçou o desconforto da AfD em lidar com a história do país.