“O mundo nunca esquecerá” — os 36 anos do massacre chinês na Praça da Paz Celestial

Trinta e seis anos depois, o massacre de Tiananmen segue proibido na China — e vivo na memória do mundo livre.


Em 4 de junho de 1989, o mundo assistiu horrorizado à brutal repressão do regime chinês contra milhares de civis desarmados reunidos na Praça Tiananmen, em Pequim. Tanques e soldados avançaram impiedosamente sobre estudantes e trabalhadores que clamavam por reformas democráticas. Trinta e seis anos depois, o Partido Comunista Chinês (PCCh) segue empenhado em reescrever ou apagar esse capítulo sombrio da história, enquanto o legado dos que tombaram permanece como símbolo da resistência à tirania.

O estopim para os protestos foi a morte de Hu Yaobang, ex-líder do PCCh e defensor de reformas políticas. Yaobang se opunha ao autoritarismo e ao culto à personalidade de Mao Zedong, defendendo maior abertura e transparência. Após sua morte em 15 de abril de 1989, estudantes começaram a se reunir na Praça da Paz Celestial, em luto — e em busca de mudança.

O que começou como uma homenagem transformou-se em um movimento nacional por democracia, contra a corrupção e pela liberdade de expressão. A resposta inicial do regime foi de desprezo. Porém, à medida que o número de manifestantes crescia, incluindo professores, jornalistas, trabalhadores e intelectuais, o PCCh optou por silenciar as vozes dissidentes com violência.

Em 13 de maio, dias antes da visita do líder soviético Mikhail Gorbachev, mais de 400 estudantes iniciaram uma greve de fome, atraindo atenção internacional. Em vez de dialogar, o governo chinês decidiu manchar ainda mais sua imagem. Classificou os manifestantes como “contrarrevolucionários” e alegou que estavam a serviço de interesses estrangeiros.

Na noite de 3 para 4 de junho, o regime colocou em marcha uma operação militar de extermínio. Soldados da 27ª Divisão, armados com munição real, marcharam até o coração de Pequim. Relatos confiáveis apontam que civis foram metralhados, atropelados por tanques, perfurados por baionetas e incinerados em crematórios improvisados. Até hoje, o número oficial de mortos permanece encoberto — estimativas apontam de centenas a milhares de vítimas.

O Partido Comunista Chinês, que governa sem qualquer oposição há décadas, continua proibindo qualquer menção ao massacre dentro do país. Livros são censurados, buscas são bloqueadas, e cidadãos que ousam lembrar Tiananmen enfrentam prisão. O controle sobre a memória tornou-se parte central da política autoritária chinesa.

Fora da China, porém, a lembrança segue viva.

“Hoje comemoramos a bravura do povo chinês que foi morto enquanto tentava exercer suas liberdades fundamentais, bem como daqueles que continuam sofrendo perseguição enquanto buscam responsabilização e justiça pelos eventos de 4 de junho de 1989”, disse Marco Rubio, principal diplomata dos EUA, em um comunicado.

Separadamente, Taiwan — que a China reivindica como parte de seu território — também elogiou a coragem dos manifestantes da Praça da Paz Celestial.

“Governos autoritários frequentemente escolhem silenciar e esquecer a história, enquanto sociedades democráticas optam por preservar a verdade e se recusam a esquecer aqueles que deram suas vidas — e seus sonhos — à ideia dos direitos humanos”, afirmou o presidente de Taiwan, Lai Ching-te.