Irã acelera enriquecimento de urânio e realiza atividades nucleares secretas, afirma AIEA

Israel condenou e pediu uma reação global “para deter o Irã”, o que pode provocar uma tensão ainda maior entre os dois países.


Um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ao qual agências de notícias tiveram acesso neste sábado (31), revela que o Irã acelerou o enriquecimento de urânio e realizou, no passado, atividades nucleares não declaradas à ONU em três locais distintos. O documento, solicitado em novembro pelo Conselho de Governadores da agência, indica que o Irã pode estar violando suas obrigações internacionais, o que poderá levar a uma resolução condenatória, potencialmente agravando as já lentas negociações nucleares entre Teerã e Washington.

Segundo o relatório, o Irã aumentou o ritmo de produção de urânio enriquecido a 60% de pureza — um nível próximo ao limite de 90% necessário para a fabricação de armas nucleares. Até 17 de maio, o país acumulava 408,6 kg deste material, um incremento de cerca de 50% em relação ao último relatório divulgado em fevereiro. A AIEA destaca que são necessários 42 kg de urânio enriquecido a 90% para produzir uma bomba atômica, ressaltando a “grande preocupação” com o avanço do programa iraniano, único entre países sem armas nucleares a produzir urânio altamente enriquecido.

Israel, potência nuclear não declarada, reagiu imediatamente, com o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmando que “a comunidade internacional deve agir agora para deter o Irã”. Para Israel, o nível de enriquecimento alcançado indica uma intenção clara de desenvolvimento de armamento nuclear, sem justificativa civil.

Com base no documento, Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha planejam apresentar um projeto de resolução ao Conselho de Governadores da AIEA, cuja reunião ocorrerá na semana de 9 de junho, para declarar o Irã em descumprimento — o que não acontece há quase 20 anos. O Ministério das Relações Exteriores iraniano classificou o relatório como “politicamente motivado” e prometeu “medidas apropriadas” contra qualquer ação.

O relatório detalha que as atividades secretas ocorreram até o início dos anos 2000, em três locais — Lavisan-Shian, Varamin e Turquzabad —, envolvendo material nuclear não declarado e experimentos relacionados à produção de armas. Em Lavisan-Shian, por exemplo, um disco de urânio metálico foi utilizado para produzir fontes de nêutrons explosivas em 2003, processo fundamental para iniciar uma explosão nuclear.

A cooperação do Irã com a AIEA segue insatisfatória, com a agência buscando explicações para vestígios de urânio encontrados em locais investigados. A divulgação do relatório deve dificultar ainda mais o diálogo com os EUA, cuja quinta rodada de negociações, em 23 de maio, na embaixada de Omã em Roma, não apresentou avanços conclusivos, segundo o mediador Badr al-Busaidi.