A Rússia apresentou novas exigências à Ucrânia para encerrar o conflito, incluindo a cessão de amplas regiões do território ucraniano e restrições ao tamanho de suas Forças Armadas, segundo um memorando publicado pela agência Interfax. As condições foram formalmente expostas durante uma reunião em Istambul na segunda-feira (2), marcada por apenas uma hora de diálogo entre as delegações.
O documento russo exige que a Ucrânia reconheça a soberania da Rússia sobre a Crimeia, anexada em 2014, além de quatro outras regiões parcialmente ocupadas: Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. Kiev também teria que retirar suas tropas dessas áreas, comprometer-se com uma posição de neutralidade — excluindo a adesão à OTAN —, tornar o idioma russo oficial e adotar leis contra a glorificação do nazismo. Acusações de discriminação contra russófonos, segundo a Ucrânia, são falsas.
Apesar dos apelos do presidente dos EUA, Donald Trump, por um cessar-fogo imediato, Moscou reiterou que não busca uma trégua temporária, mas sim um acordo permanente. A Ucrânia rejeitou mais uma vez as condições impostas, classificando-as como inaceitáveis e equivalentes à rendição.
Durante o encontro, houve acordo apenas para a troca de prisioneiros de guerra — com foco nos mais jovens e gravemente feridos — e a devolução de aproximadamente 12 mil corpos de soldados mortos. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o encontro foi promissor e declarou intenção de organizar uma nova reunião com a presença de Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky e Trump.
Moscou propôs duas opções para um cessar-fogo: a primeira exige retirada total das tropas ucranianas das regiões ocupadas; a segunda prevê o congelamento das operações militares, o fim da ajuda militar estrangeira à Ucrânia, suspensão da lei marcial e a realização de eleições nacionais em até 100 dias. Ambas foram consideradas politicamente inviáveis por Kiev.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, informou que a delegação analisará o documento russo, mas não deu declarações adicionais. Segundo ele, o plano de paz ucraniano, que prevê retirada total das forças russas, reparações e nenhuma limitação ao seu poder militar, continua em vigor.
Zelensky também relatou que a Ucrânia entregou à delegação russa uma lista com os nomes de 400 crianças supostamente levadas à força para a Rússia. Os russos aceitaram discutir a devolução de apenas 10. Moscou alega ter retirado as crianças de zonas de conflito para protegê-las.
Em paralelo às negociações, a Ucrânia lançou a operação “Teia de Aranha” no domingo (1°), enviando 117 drones para atacar bases aéreas russas na Sibéria e no extremo norte, com o objetivo de danificar bombardeiros estratégicos de longo alcance, parte da tríade nuclear da Rússia. Imagens de satélite sugerem danos significativos, embora Moscou e Kiev relatem versões distintas sobre os resultados.

Zelensky afirmou que os ataques — executados sem aviso prévio aos EUA ou ao Reino Unido — ajudaram a restaurar a confiança dos aliados na capacidade ucraniana de resistir. Um funcionário norte-americano confirmou que a Casa Branca não foi informada. Autoridades britânicas relataram o mesmo.
“O inimigo não quer parar. Não queremos lutar, mas não nos renderemos nem aceitaremos ultimatos”, declarou Zelensky em coletiva online. “Demonstramos força porque somos forçados a isso.”