Desde o devastador furacão Katrina em 2005, que causou a morte de mais de 1.800 pessoas e prejuízos estimados em mais de US$ 100 bilhões, Nova Orleans passou por uma das mais ambiciosas reformulações de infraestrutura já vistas nos Estados Unidos. Com um investimento total de quase US$ 15 bilhões (aproximadamente R$ 78,6 bilhões), a cidade reconstruiu e reforçou seu sistema de contenção de inundações, mas a pergunta permanece: seria esse novo sistema suficiente para suportar um furacão da magnitude do Katrina?

O Sistema de Redução de Risco de Danos por Furacões e Tempestades (HSDRRS) inclui cerca de 240 quilômetros de diques, comportas e barreiras, sendo o projeto mais caro e complexo já gerenciado pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA. O destaque é a Barreira de Surtos do Lago Borgne, com 2,9 km de extensão e custo de US$ 1,3 bilhão (R$ 6,8 bilhões). Essa estrutura monumental foi projetada para bloquear tempestades antes que a maré chegue às áreas urbanas, como se fosse uma linha de frente militar.

Além disso, o Complexo de Fechamento Oeste da Gulf Intracoastal Waterway, com a maior estação de bombeamento de drenagem do mundo, consegue mover mais de 542.000 litros por segundo, o suficiente para encher uma piscina olímpica a cada quatro segundos. Essa infraestrutura tem papel crucial para proteger a margem oeste da cidade.

LIÇÕES DA FALHA ANTERIOR
Durante o Katrina, a principal falha ocorreu no Canal da 17th Street, onde os diques antigos, feitos inicialmente com materiais improvisados no século XIX, desmoronaram. Os testes de solo realizados na década de 1990 foram falhos, ignorando as camadas inferiores instáveis, o que contribuiu para o colapso.
Os antigos diques com paredes em “I” foram substituídos por estruturas mais robustas, as chamadas “T-Walls”, com fundações mais profundas e estáveis. Estacas inclinadas foram adicionadas para oferecer suporte adicional, reduzindo o risco de deslizamento.
Embora o Corpo de Engenheiros dos EUA evite usar o termo “proteção”, preferindo “redução de risco”, é inegável que a engenharia aplicada após o desastre representa um salto significativo em resiliência urbana. Foram feitos reparos no solo, reforço das estruturas, aumento da capacidade de bombeamento e blindagem de pontos críticos onde diques e paredes se encontram.

Ainda assim, especialistas como H. J. Bosworth alertam que nenhuma obra elimina totalmente o risco. O sistema atual foi projetado para suportar furacões com intensidade de até categoria 3. Katrina, embora tenha atingido a costa como categoria 3, gerou impacto equivalente ao de um furacão de categoria 5 devido ao seu tamanho e volume de água.
A resposta é: Nova Orleans está muito mais preparada do que em 2005, mas não completamente segura contra um novo Katrina. O investimento bilionário em infraestrutura aumentou consideravelmente a resistência da cidade, mas a natureza imprevisível das mudanças climáticas exige vigilância constante e atualizações contínuas.
A cidade pode resistir melhor, mas não está imune.