A farmacêutica suíça Roche anunciou, nesta terça-feira (22), um investimento de US$ 50 bilhões nos Estados Unidos ao longo dos próximos cinco anos, medida que deverá gerar mais de 12 mil novos empregos no país. A decisão reflete a crescente movimentação de grandes empresas do setor frente à política tarifária adotada pelo presidente Donald Trump, cujo objetivo é fomentar a produção nacional.
O anúncio ocorre em meio a uma série de investimentos realizados por outras farmacêuticas, como forma de responder às tarifas americanas. No início deste mês, a também suíça Novartis declarou que aplicará US$ 23 bilhões nos EUA. Outras gigantes do setor, como Eli Lilly e Johnson & Johnson, também revelaram recentemente planos de investimento substanciais.
As iniciativas da Roche e da Novartis foram bem recebidas pelo governo da Suíça e fortalecem a posição da presidente Karin Keller-Sutter, que participará de reuniões com autoridades norte-americanas em Washington nesta semana, com o intuito de amenizar a ameaça de uma tarifa de 31% sobre exportações suíças. “Nossos investimentos foram coordenados com o governo suíço e fazem parte das discussões em curso entre os dois países”, afirmou um porta-voz da Roche.
De acordo com o CEO da empresa, Thomas Schinecker, o investimento evidencia o compromisso da Roche com os Estados Unidos, onde a companhia já emprega cerca de 25 mil pessoas em 24 unidades. Das novas vagas previstas, aproximadamente 6.500 serão destinadas à construção civil e cerca de 1.000 estarão associadas a novas instalações ou à ampliação de estruturas já existentes.
Com a ampliação da capacidade produtiva, a Roche estima que passará a exportar mais medicamentos a partir dos Estados Unidos do que os que atualmente importa para o país. O mercado norte-americano representou aproximadamente 48% do faturamento global da empresa em 2024, com destaque para os medicamentos Xolair (asma e alergia alimentar) e Ocrevus (esclerose múltipla).
A expansão incluirá centros de fabricação e distribuição nos estados de Kentucky, Indiana, Nova Jersey e Califórnia — alguns deles já previamente anunciados. Entre os novos projetos divulgados, destacam-se uma fábrica dedicada à produção de medicamentos para perda de peso, ainda sem local definido, e uma planta para monitoramento contínuo de glicose no estado de Indiana.
“Nossos investimentos de US$ 50 bilhões ao longo dos próximos cinco anos estabelecerão a base para uma nova era de inovação e crescimento, beneficiando pacientes nos Estados Unidos e no mundo todo”, declarou Schinecker em nota oficial.
Embora o executivo não tenha mencionado diretamente as possíveis tarifas, a empresa confirmou que está atenta às discussões e preparada para adotar medidas de mitigação e adaptação, caso necessário.
A Roche também informou que não pretende reduzir seus investimentos em outras regiões do mundo e que, nas próximas semanas, apresentará mais detalhes sobre sua estratégia global.
Na semana passada, o governo Trump deu início a uma investigação sobre a importação de produtos farmacêuticos, com o objetivo de eventualmente impor tarifas ao setor. Ainda não há definição sobre o escopo e o momento da aplicação dessas medidas. Em 2024, os EUA importaram cerca de US$ 213 bilhões em produtos farmacêuticos — quase o triplo dos US$ 73 bilhões registrados em 2014, segundo dados do banco de comércio da ONU.