Dilma Rousseff é reeleita presidente do Banco dos Brics

Segundo Dilma, sua indicação foi feita pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, após articulação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, anunciou neste domingo (23), em Pequim, sua reeleição para um novo mandato à frente da instituição, conhecida como banco do Brics. A sede do NDB fica em Xangai, na China.

Segundo Dilma, sua indicação foi feita pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, após articulação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ex-presidente brasileira revelou também estar recuperada de um problema de saúde que a deixou internada por uma semana no final de fevereiro.

“É um vírus parecido com o da gripe, mas ele te joga no chão”, afirmou. “Você não tem o que fazer. Tem que esperar ele morrer”, disse Dilma, ao comentar o diagnóstico de neurite vestibular, inflamação nos labirintos que provoca fortes tonturas.

Ao ser questionada sobre a reportagem da Folha de S.Paulo que apontava metas atrasadas e relatos de assédio moral em sua gestão no NDB, Dilma evitou o tema. “Não vi. Não quero [comentar]”, respondeu. Na sequência, fez uma referência a um episódio polêmico de 2009.

“Agora, vocês têm que parar de fazer ficha falsa, tá? Conhece a ficha falsa? Lembra dela? Levou um ano”, afirmou Dilma, relembrando o caso em que o jornal publicou uma ficha criminal atribuída a ela, cuja autenticidade nunca foi comprovada.

Vinte dias depois da publicação da época, a Folha reconheceu o erro: “O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem era o ‘arquivo [do] Dops’. Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade não pode ser assegurada — bem como não pode ser descartada”.

Dilma falou com a imprensa ao chegar ao Fórum de Desenvolvimento da China, evento anual que reúne autoridades e empresários em Pequim. Mais tarde, durante o encontro, a presidente do NDB defendeu sua gestão à frente do banco e fez críticas à administração anterior, sem citar nomes.

“Uma das coisas mais graves que aconteceram no banco foi quando não tomaram empréstimos por 16 meses”, declarou. Segundo ela, isso ocorreu justamente em um momento de juros baixos no mercado internacional.

“Quando você não tem liquidez, você não investe. Ou seja, também não tinha empréstimo”, explicou Dilma. Apesar da crítica, a ex-presidente brasileira evitou dar detalhes sobre os responsáveis pela decisão. “Eu não fico discutindo por que fizeram, por que não fizeram. O que eu sei é que fizeram assim e que a gente superou agora. Nós fomos 40 vezes ao mercado. E nós fizemos empréstimo.”

Dilma foi uma das palestrantes na abertura oficial do Fórum, realizada na histórica Casa de Hóspedes Diaoyutai. Ela se sentou na primeira fila ao lado de nomes de peso como o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o CEO da Apple, Tim Cook.

Cristiano Amon, CEO brasileiro da empresa americana de semicondutores Qualcomm, também participou do evento. Ele destacou a importância do fórum: “É extremamente importante para escutar da China a direção econômica, para as empresas do mundo que têm negócios aqui entenderem para onde eles estão indo, daqui para a frente”.

Em seu discurso, o premiê Li Qiang afirmou que a China vai “se esforçar para ser uma força de estabilização” no cenário global. Ele criticou, de forma indireta, os Estados Unidos de Donald Trump por tentarem impor uma “lei da selva” nas relações internacionais.

Li defendeu a abertura comercial dos países como resposta ao aumento da “incerteza e insegurança” global. Para ilustrar o avanço chinês, citou o sucesso do filme “Ne Zha 2” no Festival da Primavera deste ano e destacou empresas de inteligência artificial e robótica, como DeepSeek e Unitree, ambas de Hangzhou.

Além disso, o premiê ressaltou o papel da “economia verde” e dos carros elétricos como novos motores de crescimento da China.

O CEO da montadora alemã Mercedes-Benz, o sueco Ola Källenius, também falou ao jornal sobre o mercado chinês. “O mercado chinês está se abrindo mais e mais”, afirmou, destacando que a empresa pretende investir e lançar novos produtos nos próximos anos.

“A China é um dos pilares da nossa estratégia de crescimento”, disse Källenius. Ele contou ainda que a Mercedes trabalha com empresas chinesas de tecnologia em áreas como direção automática.

Ao ser questionado se as montadoras alemãs temem a concorrência das fabricantes chinesas de carros elétricos, Källenius respondeu: “É um mercado global muito competitivo, na China e em todo o mundo, mas esse é o nome do jogo, economia de mercado”.