Câmara dos EUA aprova projeto de Trump que corta impostos e eleva gastos militares

Batizado por Trump de “o grande e belo projeto de lei”, o texto estende os cortes de impostos de 2017 e eleva o teto da dívida em US$ 4 trilhões.


A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, na manhã desta quinta-feira (22), por uma margem estreita de 215 a 214, um extenso pacote de política interna que representa uma importante vitória para o presidente Donald Trump e para o presidente da Câmara, Mike Johnson, republicano da Louisiana. A aprovação foi alcançada após semanas de negociações intensas e diversas alterações de última hora. A medida agora segue para o Senado norte-americano, onde os republicanos já indicaram que pretendem modificar pontos do texto.

Dois deputados republicanos — Thomas Massie, do Kentucky, e Warren Davidson, de Ohio — votaram contra o pacote, alinhando-se aos democratas. Já o deputado Andy Harris, de Maryland, votou “presente”, enquanto Andrew Garbarino (Nova York) e David Schweikert (Arizona) perderam a votação por engano, embora tenham declarado que teriam apoiado o projeto.

Johnson brincou com a situação ao comentar com repórteres: “Garbarino adormeceu no banco de trás, sério. Vou estrangulá-lo”, acrescentando que Schweikert errou o momento do voto por poucos segundos.

Apelidado por Trump como “o grande e belo projeto de lei”, o pacote prorroga cortes de impostos aprovados em 2017, amplia o orçamento militar, reforça a segurança de fronteiras e viabiliza planos de deportação em massa. Também isenta gorjetas e horas extras de tributação, cumprindo promessas de campanha do presidente americano.

Por outro lado, a proposta impõe cortes bilionários no Medicaid e no Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), além de revogar incentivos fiscais voltados à energia limpa, aprovados durante o governo democrata. O texto também eleva o teto da dívida em US$ 4 trilhões.

O pacote inclui também quase US$ 150 bilhões em recursos adicionais destinados ao Departamento de Defesa e à segurança nacional.

Desse montante, US$ 25 bilhões seriam alocados para o programa “Golden Dome for America”, um sistema de defesa antimísseis idealizado há anos por Donald Trump. Outros US$ 21 bilhões seriam destinados ao reabastecimento do arsenal de munições do país, enquanto US$ 34 bilhões contemplariam a ampliação da frota naval por meio de investimentos em construção naval. Aproximadamente US$ 5 bilhões seriam empregados em medidas voltadas à segurança das fronteiras.

Além disso, o pacote reserva US$ 9 bilhões para iniciativas relacionadas à qualidade de vida dos militares, abrangendo habitação, assistência médica e gratificações especiais.

Em declaração após a votação, Johnson revelou que o pacote quase fracassou em diversas ocasiões. “Houve momentos na semana passada em que tudo parecia prestes a desmoronar”, afirmou. “Fui até a capela e rezei por sabedoria e discernimento. Isso, aliado ao trabalho em equipe e ao respeito mútuo, define o Partido Republicano. É um grande dia para ser americano.”

O presidente da Câmara disse ainda que o objetivo é enviar o projeto para sanção presidencial até 4 de julho, e que sugeriu aos senadores republicanos fazerem o menor número possível de alterações no texto.

A votação foi precedida por uma sessão de 21 horas no Comitê de Regras da Câmara, marcada por intensos debates entre democratas e republicanos. Modificações de última hora foram feitas para garantir o apoio de alas divergentes do Partido Republicano. Entre as concessões, destacam-se o aumento do teto da dedução estadual e local (SALT) para US$ 40 mil, o endurecimento dos requisitos de trabalho no Medicaid a partir de 2026 e o fim acelerado dos incentivos à energia limpa.

Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA, o pacote elevará a dívida nacional em US$ 2,3 trilhões e resultará na perda de cobertura de saúde para 8,6 milhões de pessoas. Estima-se ainda que, até 2033, os rendimentos do decil mais pobre sejam reduzidos em 4%, enquanto os do decil mais rico aumentem em 2%.

Trump participou ativamente das negociações finais, reunindo-se com congressistas republicanos e pressionando membros resistentes a apoiar a proposta. Entre os que cederam estão os deputados Chip Roy (Texas) e Ralph Norman (Carolina do Sul), que declararam apoio mesmo com reservas sobre os déficits fiscais.

Os democratas criticaram a condução da votação, alegando que o processo foi realizado “sob o manto da escuridão” e alertando para os impactos sociais. O líder da minoria, Hakeem Jeffries, afirmou que o projeto afetará negativamente crianças, idosos, pessoas com deficiência e causará o fechamento de hospitais e casas de repouso. “Pessoas morrerão”, advertiu. Jeffries também previu que a aprovação da medida poderá custar aos republicanos o controle da Câmara nas eleições legislativas de 2026.