Trump aplica tarifas em níveis mundiais nesta quarta-feira; Brasil pode ser alvo

Trump não detalhou quais países e produtos serão afetados, tampouco especificou a magnitude das tarifas que serão implementadas.


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está prestes a anunciar, nesta quarta-feira (2), uma série de tarifas recíprocas direcionadas a diversos parceiros comerciais, incluindo o Brasil. A data foi mencionada pelo republicano como o “Dia da Libertação”, com efeitos imediatos e abrangência global.

Trump não detalhou quais países e produtos serão afetados, tampouco especificou a magnitude das tarifas que serão implementadas.

Contudo, sinais indicam uma intensificação das medidas já adotadas pelo governo norte-americano. Na última segunda-feira (31), o republicano afirmou que a decisão impactará todos os países. No dia seguinte, a Casa Branca reforçou que as novas tarifas entrarão em vigor imediatamente.

Em fevereiro, Trump já havia anunciado que seu gabinete trabalharia para garantir um comércio internacional “justo e recíproco” para os Estados Unidos.

Durante sua campanha para retornar à Casa Branca, o republicano reiterou que os parceiros comerciais dos EUA impõem tarifas elevadas e barreiras comerciais desfavoráveis ao país.

Segundo Trump, tais práticas enfraquecem a indústria norte-americana, desestimulam a produção local e promovem a evasão de capital. Com isso, em 13 de fevereiro, ele assinou uma ordem executiva determinando que sua equipe de comércio exterior estudasse os parceiros comerciais dos EUA e elaborasse novas tarifas.

O prazo concedido ao grupo liderado por Howard Lutnick, secretário de Comércio, encerrou-se na última terça-feira (1º). Scott Bessent, secretário do Tesouro, anunciou que Trump revelará os detalhes da medida às 17h (horário de Brasília) desta quarta-feira.

IMPACTOS GLOBAIS

Economistas e organismos internacionais avaliam que a política comercial de Trump pode gerar incertezas para a economia mundial, provocando desaceleração e inflação, além de desorganizar cadeias produtivas.

Um relatório da agência de classificação de risco Moody’s, publicado na segunda-feira, aponta que os mercados emergentes estão particularmente expostos à instabilidade gerada pelas novas medidas.

A Moody’s destaca que diversas economias emergentes estruturaram suas relações comerciais com base em tarifas reduzidas aplicadas pelos EUA.

“A imprevisibilidade das políticas comerciais norte-americanas representa um risco de crédito significativo. Uma retração nos investimentos, tanto domésticos quanto estrangeiros, devido a essa instabilidade, atingiria primeiro os setores exportadores”, aponta o documento.

“As economias que impõem tarifas elevadas sobre produtos dos EUA, ao mesmo tempo em que dependem fortemente das exportações para aquele país, estão particularmente vulneráveis”, conclui o relatório.

Na semana passada, Trump afirmou que poderia ser “gentil” e adotar uma abordagem mais moderada, mas alertou que, se as tarifas forem “totalmente recíprocas”, o impacto será “muito duro para as pessoas”.

O presidente dos EUA indicou abertura para negociar exceções com parceiros comerciais, mas somente após o dia 2 de abril.

REPERCUSSÃO NO BRASIL

Antes de retornar à presidência, Trump reafirmou sua intenção de elevar tarifas de importação e citou explicitamente o Brasil.

“Quem nos taxar, taxaremos de volta”, declarou o republicano, criticando as tarifas aplicadas pelo Brasil sobre o etanol norte-americano.

Em resposta, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), minimizou as preocupações, destacando que o Brasil não representa um problema comercial para os EUA, dado que a balança comercial é superavitária para os norte-americanos.

Encabeçando as tratativas diplomáticas, Alckmin aposta no diálogo para evitar desgastes comerciais.

Na mesma linha, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou em 12 de março que o governo brasileiro não pretende adotar retaliações.

Entretanto, na última quinta-feira (27), durante entrevista no Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “não dá pra gente ficar quieto” diante da possibilidade de sobretaxas dos EUA sobre produtos brasileiros.

Lula avaliou que adotar medidas recíprocas seria uma “decisão a ser considerada”, além de acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Segundo a pesquisa Latam Pulse, conduzida pela AtlasIntel e divulgada pela Bloomberg na terça-feira (1º), 49,5% dos brasileiros apoiam a adoção de medidas contra os EUA caso Trump imponha tarifas mais elevadas.

Em resposta às declarações do republicano, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou um projeto que estabelece mecanismos para o Brasil retaliar barreiras comerciais contra seus produtos.

A proposta prevê a aplicação de tarifas recíprocas, buscando neutralizar sobretaxas impostas por outros países. O texto agora seguirá para apreciação na Câmara dos Deputados.