Um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmou à Polícia Federal que a atual gestão da agência manteve operações de invasão hacker contra sistemas do governo do Paraguai. Segundo ele, foram alvos o Congresso, a Presidência e autoridades ligadas à negociação da usina de Itaipu.
O servidor relatou que a ação começou no governo de Jair Bolsonaro, mas continuou sob a gestão de Luiz Fernando Corrêa, diretor da Abin, e de Saulo de Cunha Moura, que ocupou o cargo interinamente entre março e maio de 2023.
“O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do Anexo C […]. Foram alvos o presidente do Paraguai, o presidente do Senado e autoridades relacionadas diretamente à negociação”, disse o servidor.
A informação foi revelada pelo portal UOL.
AÇÃO INTERROMPIDA
O governo Lula declarou que interrompeu a ação assim que tomou conhecimento dela, em maio de 2023.
“O governo do Presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência contra o Paraguai”, afirmou o governo em nota oficial.
A nota destaca que a operação foi autorizada na gestão anterior, em junho de 2022, e interrompida pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023.
“A citada operação foi autorizada pelo governo anterior […]. A atual gestão interrompeu qualquer ação assim que tomou conhecimento do fato.”
O governo também reafirmou o compromisso com relações diplomáticas baseadas em respeito e transparência.
PARAGUAI NEGA PROVAS
O chanceler paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, negou haver evidências de ataque do Brasil contra sistemas paraguaios.
“O Paraguai não tem nenhuma evidência de que o Brasil tenha atacado seus sistemas informáticos”, afirmou.
Segundo ele, as tarifas de energia estão definidas até 2027 e as negociações do Anexo C seguem o cronograma.
“Me informaram que vai haver uma aclaração respectiva de parte do Brasil”, disse, após conversar com o chanceler brasileiro Mauro Vieira.
TÉCNICAS DE ESPIONAGEM
O depoente revelou que a Abin utilizou ferramentas como Cobalt Strike e e-mails com engenharia social para roubar senhas e acessos.
Os ataques foram realizados a partir de servidores no Panamá e no Chile e apresentados em reuniões internas da Abin.
O Anexo C do Tratado de Itaipu define as bases financeiras da usina e sua revisão ocorreu em abril de 2023, após 50 anos de vigência.