Vance chega à Groenlândia e reforça ambição dos EUA na ilha

Nos termos de um tratado de 1951, os EUA possuem o direito de acessar a base de Pituffik a qualquer momento, mediante notificação à Groenlândia e à Dinamarca.


JD Vance, vice-presidente dos Estados Unidos, afirmou, ao chegar à Groenlândia nesta sexta-feira (28), que o interesse norte-americano na segurança do Ártico se intensificará por décadas, sinalizando que não haverá trégua na pressão exercida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para garantir maior controle sobre o território semiautônomo dinamarquês.

A visita ocorreu na base militar dos EUA em Pituffik, ao norte da ilha ártica, apenas algumas horas após a apresentação, em Nuuk, da nova e ampla coalizão governamental, que busca manter os laços com a Dinamarca por ora. Ao desembarcar, Vance cumprimentou membros das Forças Armadas norte-americanas, expressando reconhecimento pelo serviço prestado na remota instalação, situada a 1.200 quilômetros ao norte do Círculo Polar Ártico.

“O presidente [Trump] está genuinamente interessado na segurança do Ártico, como todos sabem, e essa atenção apenas crescerá nas próximas décadas”, declarou Vance.

O vice-presidente também fez uma observação bem-humorada: “Está frio pra caramba aqui. Ninguém me contou”, provocando risos. Ele acrescentou que essa era sua primeira visita à ilha, onde a temperatura em Pituffik marcava -3 graus Fahrenheit (-19ºC).

O novo primeiro-ministro da Groenlândia considerou a visita norte-americana um sinal de “falta de respeito” e instou a população a permanecer unida diante da “pressão externa”. O rei da Dinamarca, por sua vez, manifestou apoio ao território por meio de declaração nas redes sociais: “Vivemos em uma realidade alterada. Não deve haver dúvidas de que meu amor pela Groenlândia e minha conexão com seu povo permanecem intactos”, afirmou Frederik.

A delegação dos EUA incluiu ainda a esposa de Vance, Usha, o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz e o secretário de Energia Chris Wright. O itinerário original previa que a primeira-dama participasse de uma corrida de trenós puxados por cães, acompanhada de Waltz. No entanto, as autoridades groenlandesas e dinamarquesas não concederam convites oficiais para tal atividade.

Diante de protestos públicos e da insatisfação de líderes locais, a comitiva norte-americana restringiu-se à base militar, sem encontros com a população.

Nos termos de um tratado de 1951, os EUA possuem o direito de acessar a base de Pituffik a qualquer momento, mediante notificação à Groenlândia e à Dinamarca. A localização da instalação é estratégica, situando-se na rota mais curta entre a Europa e a América do Norte e sendo vital para o sistema de alerta de mísseis balísticos dos EUA.

Na última quarta-feira, Trump reiterou seu desejo de assegurar controle sobre a Groenlândia, argumentando que a ilha é fundamental para a segurança nacional e internacional dos Estados Unidos.

“Então, acho que iremos até onde for necessário. Precisamos da Groenlândia, e o mundo também precisa que tenhamos a Groenlândia, inclusive a Dinamarca”, afirmou.

A ilha, cuja capital está mais próxima de Nova York do que de Copenhague, é rica em minerais, petróleo e gás natural. No entanto, o desenvolvimento econômico tem sido lento, com o setor de mineração contando majoritariamente com investimentos de empresas australianas, canadenses e britânicas. Um representante da Casa Branca destacou que a Groenlândia possui vastas reservas de minerais de terras raras, essenciais para impulsionar a próxima geração da economia norte-americana.

Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro Jens-Frederik Nielsen apelou à unidade política.

“Em um momento em que, como povo, estamos sob pressão, devemos nos manter unidos”, declarou em entrevista coletiva.

Seu partido, os Democratas, de orientação pró-negócios e defensor de uma independência gradual da Dinamarca, emergiu como a maior força política nas eleições de 11 de março.

A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, que anteriormente classificara os planos da visita norte-americana como “inaceitáveis”, felicitou o novo governo groenlandês por meio de uma publicação no Instagram: “Estou ansiosa por uma colaboração estreita em um momento desnecessariamente repleto de conflitos”.

Andreas Oesthagen, pesquisador sênior do Instituto Fridtjof Nansen, com sede em Oslo, comentou sobre o contexto diplomático da situação.

“Ainda é improvável que os Estados Unidos utilizem meios militares”, declarou à agência Reuters.

“Porém, lamentavelmente, é provável que o presidente Trump e o vice-presidente Vance continuem a empregar outros instrumentos de pressão, tais como declarações ambíguas, visitas semioficiais à Groenlândia e estratégias econômicas”, concluiu.