Em círculos privados, até mesmo autoridades russas expressaram surpresa e desaprovação em relação ao comportamento demonstrado no Salão Oval da Casa Branca nesta sexta-feira (28). A ideia de que líderes internacionais — tanto dos Estados Unidos quanto da Ucrânia — se envolveriam em um confronto público repleto de ofensas, diante das câmeras, foi um choque tanto para os russos quanto para outros observadores globais.
Publicamente, as autoridades russas têm alinhado suas reações à visão da Casa Branca, que condena o comportamento do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como desrespeitoso.
— “Como [o presidente dos EUA, Donald] Trump e [o vice-presidente dos EUA, JD] Vance conseguiram conter a raiva e não reagiram fisicamente a esse indivíduo [Zelensky] é um milagre de resistência”, comentou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia e aliado próximo de Vladimir Putin, que é conhecido por suas declarações polêmicas, foi ainda mais contundente: “O comportamento insolente finalmente recebeu uma reprimenda adequada no Salão Oval. E Trump tem razão: o regime de Kiev está ‘brincando com a Terceira Guerra Mundial’”, publicou ele em sua conta no X.
Entretanto, por trás da indignação pública, o Kremlin observa com cautela o enfraquecimento de seus rivais. A humilhação pública de Zelensky, diante de seu principal aliado, os Estados Unidos, representa uma vitória estratégica para o Kremlin, que sofre com as pesadas perdas financeiras e militares decorrentes da sua ‘operação militar especial’ na Ucrânia, em curso há três anos. Esse incidente levantou sérias dúvidas sobre a continuidade do apoio militar vital dos EUA à Ucrânia, o que, para Moscou, pode beneficiar suas tropas em solo ucraniano, enquanto as relações entre Moscou e Washington se tornam progressivamente mais ambíguas.
Kirill Dmitriev, negociador de alto escalão do Kremlin, descreveu as cenas caóticas da Casa Branca como “históricas”.
Certamente, os eventos desse dia serão julgados pela história, mas, de maneira geral, a cobertura da mídia estatal russa refletiu a visão oficial do Kremlin. A TASS, agência de notícias estatal russa, descreveu o comportamento de Zelensky de forma crítica, mencionando que o presidente ucraniano foi “interrompido, discutiu e se comportou de maneira rude com a imprensa”. A RIA, outra agência estatal russa, destacou o que considerou uma “histeria de Zelensky na Casa Branca”, referindo-se à indignação provocada entre os membros da Rada, o parlamento ucraniano.