A ex-diretora de produtos da Meta, Kelly Stonelake, que trabalhou na empresa por 15 anos, processa a companhia de Mark Zuckerberg por discriminação e assédio após sua demissão em 2024. A denúncia foi divulgada pelo Business Insider e detalhada pela própria executiva em seu perfil no LinkedIn. A Meta não se pronunciou sobre o caso.
Kelly criticou Zuckerberg pelo encerramento do programa de checagem de fatos nas redes sociais da empresa e afirmou que foi demitida após denunciar racismo em um projeto do Horizon, aplicativo de realidade virtual da Meta.
“Quando levantei o problema, eu me tornei o problema – um padrão que silencia as mulheres em todos os lugares, todos os dias”, declarou.
A ex-funcionária também denunciou assédio de chefes, foi orientada a ser “menos inteligente”, teve promoções negadas por ser mulher e ouviu que deveria “transar com o chefe para ser promovida”.
“Fui agredida sexualmente por um chefe em uma viagem de negócios. Negaram-me promoções porque reconhecer meu sucesso significava admitir os fracassos dos homens. Já me disseram para agir de forma ‘menos inteligente’ e sofri retaliações por fazer meu trabalho”, afirmou.
Na mesma semana em que a Meta extinguiu o programa de checagem de fatos no Facebook, Instagram e Threads, Zuckerberg participou de um podcast onde disse que as empresas precisavam de “mais energia masculina”. Kelly criticou a postura do CEO.
“Onde Mark Zuckerberg promove um ambiente mais masculino, desmantela equipes de diversidade e remove salvaguardas, meu caso deixa claro: ambientes tóxicos e discriminatórios não são apenas errados, eles são anti-inovação. Odiar mulheres prejudica a todos”, declarou.
A nova política da Meta tem sido alvo de críticas por se alinhar a princípios do governo Trump, acelerando a “disseminação de desinformação” e tornando o ambiente digital “mais hostil” para grupos minoritários.
Agora, por exemplo, nas redes da Meta, um usuário pode escrever frases como “transsexuais não são pessoas normais” sem ser punido pela plataforma.
“A verdade não importa para Mark Zuckerberg, mas importa para mim”, finalizou Kelly.
O RELATO DE KELLY STONELAKE
— “Por 15 anos, liderei equipes e projetos cruciais na Meta. Não imaginei que minha trajetória terminaria por denunciar um jogo racista, mas essa é a realidade.
Fiquei animada ao ser escolhida para expandir o Horizon, mas horrorizada ao encontrar um ambiente dominado por homens que encobriam racismo e violavam políticas públicas. O mais grave? As vítimas eram, em sua maioria, crianças.
Quando apontei o problema, tornei-me o problema – um padrão que silencia mulheres todos os dias. Já fui agredida sexualmente por um chefe em uma viagem de negócios. Já me negaram promoções porque reconhecer meu sucesso significava admitir os fracassos dos homens. Já me disseram para agir ‘menos inteligente’ e enfrentei retaliações por cumprir meu dever.
Alguns estão surpresos por não saberem que essas coisas acontecem. Outros, por perceberem que agora podemos falar abertamente sobre isso.
Meu privilégio me dá a obrigação de denunciar, mas esse ambiente hostil atinge todas as mulheres, em todos os níveis e setores. Para mulheres negras, a situação é ainda pior. Esse cenário gera péssimos resultados de negócios, agrava a desigualdade e coloca vidas em risco.
Isso quase custou minha vida.
Já fui agarrada sem consentimento, gritaram comigo, disseram que eu deveria dormir com meu chefe para ser promovida. Sobrevivi a tudo isso. Mas nada me quebrou tanto quanto dizer ‘não’ a homens poderosos.
Quando grandes empresas expulsam líderes marginalizados, elas criam produtos perigosos. Não é apenas uma questão ética, mas uma falha de governança que coloca funcionários, investidores e usuários em risco.
A Meta não estava apenas marginalizando mulheres ao me dispensar. Estava priorizando poder sobre pessoas, crescimento sobre integridade.
Esse ciclo se repete na indústria da tecnologia:
Mulheres e minorias denunciam falhas éticas.
Sofrem retaliação por falar a verdade ao poder.
E os usuários mais vulneráveis pagam o preço.
As empresas precisam proteger denunciantes éticos, tornar promoções transparentes e reafirmar seu compromisso com diversidade, vinculando esses avanços à remuneração dos executivos.
Zuckerberg quer um ambiente mais masculino, elimina iniciativas de diversidade e ignora salvaguardas. Mas minha experiência prova algo inegável: ambientes tóxicos e discriminatórios não são apenas errados, são um obstáculo à inovação.
Odiar mulheres prejudica a todos.
A verdade não importa para Mark Zuckerberg, mas importa para mim.”