Alto funcionário do Fed diz que ignorar o impacto das tarifas de Trump seria um erro “perigoso”

A maioria dos economistas privados prevê que as tarifas tenham efeito inflacionário, reduzindo as expectativas de cortes nos juros este ano.


Um alto funcionário do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, alertou para o risco inflacionário das tarifas planejadas por Donald Trump. Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, afirmou na quarta-feira (5) que ignorar choques de oferta, como tarifas, é “perigoso”.

Os EUA enfrentam desafios na cadeia de suprimentos, como greves e desastres naturais, além da ameaça de uma guerra comercial. “Essas ameaças não são da mesma magnitude do que ocorreu na pandemia, mas ignorar suas consequências seria um erro”, disse Goolsbee.

Os comentários surgem dias após Trump ameaçar tarifas de 25% sobre México e Canadá. Na segunda-feira (3), ele adiou as tarifas por 30 dias, mas impôs uma taxa de 10% à China, levando Pequim a retaliar com tarifas sobre produtos dos EUA.

As declarações de Goolsbee contrastam com as de Jerome Powell, presidente do Fed, que afirmou que os responsáveis pela política monetária precisavam “esperar e ver” os efeitos das tarifas antes de decidir sobre os juros. O Fed manteve as taxas entre 4,25% e 4,5%, e Powell destacou: “Não sabemos o que será tarifado, não sabemos por quanto tempo ou quanto, quais países, não sabemos sobre retaliação, não sabemos como isso vai se transmitir pela economia até os consumidores.”

A maioria dos economistas privados prevê que as tarifas tenham efeito inflacionário, reduzindo as expectativas de cortes nos juros este ano. A inflação segue acima da meta do Fed, e as apostas em reduções caíram desde o fim de 2024.

Trump declarou que deseja cortes “muito” expressivos nos custos de empréstimos e que conversaria regularmente com Powell. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, negou pressão sobre o Fed, afirmando que o foco do governo é reduzir os custos de longo prazo da dívida pública e monitorar os rendimentos dos títulos do Tesouro.

Goolsbee ressaltou que a grande lição da pandemia foi que os banqueiros centrais não podem ignorar choques de oferta. “Esses foram os principais motores da inflação nos últimos cinco anos”, afirmou. “Vimos nos tempos de Covid-19 que quanto mais complexa a cadeia de suprimentos, mais tempo levava para gerenciá-la,” afirmou.