Por enquanto, ataques de Israel ao Irã não causam radiação grave

Ataques às instalações nucleares do Irã exigem atenção global aos riscos de radiação.


Ataques a instalações nucleares, em teoria, poderiam liberar nuvens de radiação letal, colocando em risco vidas humanas e o meio ambiente. No entanto, no caso dos recentes bombardeios israelenses contra o Irã, ocorridos nesta sexta-feira (13), ainda não há indícios de que tal cenário tenha se concretizado.

Os primeiros alvos atingidos sugerem que os danos mais graves foram evitados. Até agora, as ameaças de liberação de radiação permanecem restritas e relativamente limitadas.

O cenário mais crítico envolveria ataques bem-sucedidos a reatores nucleares. O funcionamento desses reatores resulta, ao longo do tempo, no acúmulo de subprodutos altamente radioativos, como Césio-137, Estrôncio-90 e Iodo-131. Este último, quando inalado ou ingerido, pode se alojar na glândula tireoide e, por sua alta radioatividade, aumentar significativamente o risco de câncer, especialmente em crianças.

Apesar da gravidade potencial, não há, até o momento, qualquer relatório ou evidência indicando que os principais reatores iranianos tenham sido atingidos. Entre os locais aparentemente poupados estão uma usina nuclear no Golfo Pérsico, um reator de pesquisa em Teerã e o complexo de Arak — estrutura fortemente protegida, com defesa antiaérea e extensas barreiras de segurança. Arak, durante anos, foi suspeito de ser uma instalação destinada à produção de plutônio para armas nucleares. Contudo, após o acordo nuclear de 2015, o local foi desativado para esse propósito e nunca entrou em operação.

Uma preocupação secundária diz respeito ao urânio, o outro combustível nuclear utilizado em armamentos. O Irã tem concentrado esforços, nos últimos anos, na construção e expansão de instalações para enriquecer urânio, que, em sua forma natural, possui menos de 1% de urânio-235 — isótopo necessário para reatores e armamentos nucleares. Por meio de centrífugas de alta velocidade, os iranianos aumentaram esse índice ao longo das décadas. Atualmente, já alcançam níveis de 60%, próximos aos necessários para a fabricação de bombas nucleares.

Quanto mais alto o grau de enriquecimento, maior o risco à saúde humana. O urânio-235 e seus produtos de decaimento emitem radiações alfa, beta e gama. As duas primeiras são facilmente bloqueáveis — por roupas, por exemplo. Já os raios gama, de altíssima energia, penetram o corpo humano, podendo danificar o DNA e causar câncer. Barreiras de concreto espesso ou chumbo são necessárias para conter essa radiação.

Análises de especialistas e imagens de satélite confirmaram que um dos principais alvos dos ataques foi o complexo de Natanz, maior instalação iraniana de enriquecimento de urânio. A Usina Piloto de Enriquecimento de Combustível, que produzia urânio enriquecido a quase 60%, foi completamente destruída. As imagens revelam uma cratera escura e vídeos à distância registram nuvens de fumaça.

Embora exista a possibilidade de que essa fumaça contenha partículas de U-235, com potenciais riscos à saúde, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que monitora o local, afirmou não ter detectado níveis perigosos de radiação até o momento.

“O nível de radioatividade fora do complexo de Natanz permaneceu inalterado e dentro da normalidade, indicando ausência de impacto radiológico externo à população ou ao meio ambiente”, declarou Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da AIEA, ao Conselho de Segurança da ONU. Ele mencionou preocupações internas com partículas alfa, mas destacou que os riscos são “administráveis” com medidas de proteção adequadas.

Grossi também reconheceu relatos de ataques às instalações nucleares de Fordo e Isfahan, mas afirmou que ainda não há informações suficientes para avaliar os possíveis danos.

Além da radioatividade, o urânio representa outro risco à saúde por ser um metal pesado tóxico, comparável ao chumbo. Quando ingerido ou inalado, pode causar sérios danos aos rins e ao sistema respiratório, sendo a inalação de poeira de urânio um perigo especialmente presente em processos de mineração e moagem.

Diplomatas expressaram suas preocupações sobre os riscos decorrentes dos bombardeios.

O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, declarou: “Estamos particularmente preocupados com as potenciais consequências radiológicas, que podem ter efeitos devastadores não apenas para o Oriente Médio, mas para o mundo inteiro”.

Ele acrescentou que Moscou acompanha com atenção a situação dos inspetores da AIEA em território iraniano: “A vida e a saúde de seu pessoal estão em risco. Esperamos que o diretor-geral da agência forneça uma avaliação objetiva da situação, inclusive sobre as consequências radiológicas dos ataques”.