A Suprema Corte de Justiça da Argentina determinou, nesta terça-feira (10), a prisão da ex-presidente Cristina Kirchner, ao rejeitar um recurso que tentava anular sua condenação a seis anos de prisão por corrupção. Com a decisão, Cristina tem cinco dias úteis para se apresentar voluntariamente e iniciar o cumprimento da pena, ficando inelegível para cargos públicos pelo resto da vida. Por ter mais de 70 anos, poderá solicitar o cumprimento da pena em regime domiciliar.
Cristina recebeu a notícia na sede do Partido Justicialista, em Buenos Aires. Após o anúncio da Suprema Corte, a ex-presidente discursou a apoiadores reunidos em frente ao edifício, classificando a decisão como perseguição política.
“Esta Argentina em que vivemos hoje nunca deixa de nos surpreender”, afirmou. “Não se confundam. [Os juízes] são três fantoches que respondem a líderes naturais muito acima deles”, declarou.
A ex-presidente também criticou o governo do atual presidente Javier Milei, acusando-o de promover o desmonte de setores essenciais como a economia e a educação. Segundo Cristina, sua prisão não mudará a realidade enfrentada pela população, mas servirá como “testemunho de dignidade política e histórica”.
“Podem me prender, mas as pessoas continuam recebendo salários miseráveis ou perdendo o emprego, as aposentadorias vão continuar insuficientes e não vão chegar ao fim do mês, e os remédios estão cada vez mais caros.”
A condenação de Cristina já havia sido confirmada por duas instâncias da Justiça argentina. Ela aguardava em liberdade a análise do recurso pela Suprema Corte. Na segunda-feira (9), diante da iminência da prisão, convocou seus apoiadores às ruas. Segundo o jornal Clarín, há bloqueios em rodovias que dão acesso à capital argentina.
Na semana passada, Cristina havia anunciado sua intenção de disputar as eleições legislativas de setembro, tentando uma vaga como deputada pela província de Buenos Aires. Com a decisão da Corte, a candidatura está inviabilizada.
Cristina Kirchner foi presidente da Argentina entre 2007 e 2015, e vice-presidente de 2019 a 2023, durante o governo de Alberto Fernández.
O CASO
Cristina foi condenada por beneficiar Lázaro Báez, proprietário de uma construtora e amigo próximo do casal Kirchner. Conforme a denúncia, o empresário venceu 51 licitações para obras públicas, muitas delas com indícios de superfaturamento e sem conclusão.
Segundo a acusação, após obter os contratos, Báez repassava parte dos recursos públicos destinados às obras para Cristina e seu marido, Néstor Kirchner — que presidiu a Argentina entre 2003 e 2007 —, bem como para empresas ligadas a familiares do casal.
A ex-presidente foi denunciada por liderar uma organização criminosa e por praticar gestão fraudulenta ao longo de 12 anos, abrangendo o mandato de Néstor e os dois períodos de governo dela. O esquema teria provocado um prejuízo estimado em US$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Cristina nega todas as acusações e alega que a sentença já estava determinada desde o início do processo judicial. Após ser condenada em primeira instância, declarou que o Judiciário atuava como um “pelotão de fuzilamento”.
Além da ex-presidente, Báez e outras duas pessoas também foram sentenciados a seis anos de prisão. Néstor Kirchner faleceu em 2010.