EUA endurecem com a China e aplicam dois fortes golpes em um só dia a Pequim

Tudo parecia calmo entre os EUA e a China — até quarta-feira (28).


A trégua frágil na guerra comercial entre Estados Unidos e China sofreu um duro abalo após dois movimentos estratégicos do governo Trump na noite de quarta-feira (28). As medidas, voltadas contra o avanço tecnológico e a influência educacional da China, surpreenderam Pequim e reacenderam tensões que pareciam contidas após o recente acordo para reduzir tarifas bilaterais.

Nos últimos meses, a redução tarifária foi celebrada como sinal de alívio entre as duas maiores economias do planeta. O comércio começava a dar sinais de recuperação. Fábricas na China retomavam operações, e contêineres represados deixavam os portos rumo aos EUA. A mídia estatal chinesa classificou os avanços como uma “vitória nacional”, e o governo adotou um discurso otimista quanto à cooperação. No entanto, os eventos de quarta-feira colocam esse cenário em xeque.

O primeiro golpe partiu de uma revelação do Financial Times: o presidente dos EUA, Donald Trump, teria restringido ainda mais a venda de softwares americanos essenciais ao design de semicondutores para empresas chinesas. Esses chips são vitais em setores estratégicos, como inteligência artificial, telecomunicações e armamentos. Trata-se de uma medida coerente com a política de segurança nacional dos EUA, que visa conter a rápida ascensão tecnológica chinesa — em boa parte financiada por subsídios estatais e, muitas vezes, beneficiando empresas com laços com o Partido Comunista Chinês.

Apesar do investimento bilionário de Pequim na autossuficiência de semicondutores, a dependência da tecnologia americana ainda é notável. Limitar esse acesso é visto como um passo crucial para proteger interesses estratégicos dos EUA e dos seus aliados democráticos.

A segunda medida veio por meio do Secretário de Estado Marco Rubio, que anunciou o endurecimento na emissão e renovação de vistos para estudantes chineses, sobretudo em áreas consideradas sensíveis ou com vínculos com instituições ligadas ao regime de partido único da China. O objetivo é impedir potenciais transferências de conhecimento que possam fortalecer as capacidades militares e cibernéticas chinesas.

A decisão atinge uma base significativa: havia mais de 270 mil estudantes chineses nos EUA em 2024. Embora muitos não tenham envolvimento direto com o regime, o modelo de vigilância e controle da China dificulta a distinção entre civis e membros de estruturas ligadas ao Partido Comunista. O Departamento de Estado norte-americano considera necessário agir com cautela e firmeza, diante da ameaça de espionagem e da infiltração ideológica.

A reação de Pequim foi previsível. O Ministério das Relações Exteriores da China classificou a medida como “injusta” e “ideológica”, ignorando os inúmeros relatos de repressão estatal, vigilância digital e influência política que caracterizam seu sistema. Já Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa em Washington, acusou os EUA de “abusar dos controles de exportação”, mas não negou o conteúdo das ações americanas.

Especialistas apontam que, a longo prazo, as restrições podem impulsionar um redirecionamento estratégico: menos estudantes chineses buscarão universidades americanas, e o êxodo acadêmico pode ser contido. Isso contribuiria para reduzir riscos de transferência de conhecimento sensível e fortalecer o controle migratório.

Curiosamente, no mesmo dia, a China obteve uma vitória parcial: um tribunal federal dos EUA bloqueou a aplicação das tarifas mais altas impostas por Trump, incluindo o imposto de 30% sobre produtos chineses. No entanto, a administração já recorreu da decisão, mantendo o tema em aberto.

As ações de Trump reafirmam sua política de contenção à influência chinesa e sinalizam que os EUA estão dispostos a proteger sua soberania tecnológica e acadêmica, mesmo ao custo de instabilidade temporária na trégua comercial.