Lula insiste em 2026, mas o Brasil já clama por renovação

Entre o espelho de Biden e a capa do Super-Homem, o presidente brasileiro insiste em correr contra o tempo — e o bom senso.


Há uma hora em que até os mais mandatários precisam tirar a capa. Ou, pelo menos, lavá-la e guardá-la no sótão do esquecimento, em caixas que nunca mais serão abertas. O presidente Lula, no entanto, parece acreditar que é feito de aço inoxidável: imune ao tempo, à ferrugem, ao desgaste, às quedas, à labirintite e à queda de popularidade. Aos 79 anos, insiste que será o possível candidato de 2026 como se a presidência fosse um rodízio de pizza — e ele ainda aguentasse a oitava fatia com o entusiasmo de um jovem. O problema nisso tudo? A conta biológica não fecha — e o Brasil, como sempre, é quem paga.

Nos Estados Unidos, Joe Biden, com seus 82 anos muito bem vividos (e tropeçados), sofreu uma imensa pressão até do próprio partido para desistir da reeleição. Já teve até quedas na escada do Air Force One. Na imprensa satírica americana, virou um vovô simpático e teimoso, e cada aparição pública é um lembrete de que o tempo, esse tirano de contagem regressiva, não perdoa nem quem tem acesso ao Serviço Secreto. A título de exemplo, recentemente, repórteres americanos divulgaram áudios obtidos diretamente com o ex-presidente Biden, nos quais ele apresenta confusões mentais e lapsos de memória.

E no Brasil? Aqui, a velhice é tratada como se fosse um ato revolucionário. Lula anda cada vez mais ausente, claudicante e com fôlego de nota de três reais. A diferença é que, ao contrário de Biden, Lula acredita que ainda pode salvar o mundo — ou, pelo menos, o próprio legado. Mas convenhamos: até Jesus, depois de 33 anos, se recolheu. Lula acha que ainda não deu?

A história está cheia de velhos teimosos no poder. Churchill voltou ao cargo com 76 anos e, apesar de seu brilhantismo, governou com dificuldades de saúde e memória. Konrad Adenauer, na Alemanha, ficou no comando até os 87 — mas só porque os alemães têm uma paciência prussiana. Já por aqui, o que temos é um presidente que, além de teimoso, insiste em parecer o contrário do que é: jovem, renovado, conectado com as massas. Quando, na verdade, às vezes parece que precisa de legenda até para acompanhar os próprios ministros.

Não se trata de etarismo, veja bem. A experiência conta. Mas confundir experiência com eternidade é outro papo. Lula parece querer concorrer não apenas contra adversários, mas contra o tempo, a biologia, a fadiga dos materiais — e dos brasileiros. Em sua cabeça, talvez se veja como uma espécie de Gandalf da política, pronto para iluminar o caminho. Mas o que a realidade mostra é mais um Dumbledore cansado, arrastando a capa e repetindo feitiços que já não encantam.

O Brasil não precisa de um super-herói cansado. Precisa de líderes que saibam a hora de passar o bastão. A insistência de Lula em ser candidato em 2026 é menos um ato de coragem e mais um sintoma de vaidade tardia. E a vaidade, todos sabemos, é péssima conselheira — especialmente quando o espelho começa a mentir.

A pergunta que fica é: quem vai ter coragem de dizer a verdade para o presidente? Porque o corpo fala — e o povo também. E ambos, ao que parece, já estão pedindo descanso.

Thiago Henrique

Colunista