Prever quem será o próximo papa é, historicamente, uma tarefa incerta. Um antigo ditado italiano adverte que “quem entra no conclave como papa, sai como cardeal”, ressaltando o caráter imprevisível da escolha. Ainda assim, diante do falecimento do Papa Francisco aos 88 anos, anunciado pelo Vaticano nesta segunda-feira (21), alguns nomes despontam como os mais cotados entre os cardeais para liderar a Igreja Católica. A seguir, os principais “papabili”, listados em ordem alfabética:
Jean-Marc Aveline – Francês, 66 anos, arcebispo de Marselha, é conhecido por sua natureza acessível, senso de humor e alinhamento ideológico com Francisco, sobretudo em temas como imigração e diálogo inter-religioso. Intelectual respeitado, é doutor em teologia, graduado em filosofia e teve carreira ascendente sob Francisco, tornando-se bispo em 2013, arcebispo em 2019 e cardeal em 2022. Nascido na Argélia em uma família de origem espanhola, viveu em Marselha, cidade portuária multicultural. Seria o primeiro papa francês desde o século XIV. Fala francês e compreende italiano, embora não o fale fluentemente — possível desvantagem no ambiente romano.

Peter Erdo – Húngaro, 72 anos, é visto como um nome de consenso entre conservadores e moderados. Já era considerado papável em 2013. Defensor da Nova Evangelização e especialista em direito canônico, fala fluentemente italiano, alemão, francês, espanhol e russo. É teologicamente conservador, mas pragmático. Em 2015, contrariou Francisco ao se opor à acolhida de refugiados nas igrejas durante a crise migratória. Apesar de não ser carismático, sua sobriedade pode atrair cardeais que desejam estabilidade.
Mario Grech – Maltês, 68 anos, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, representa a ala reformista do Vaticano. Evoluiu de posições conservadoras para defensor de maior inclusão de fiéis LGBT e de abordagens contemporâneas para famílias modernas. Tem aliados entre moderados e conservadores. Vindo do menor país da União Europeia, sua eleição não causaria tensões geopolíticas. Em 2016, liderou uma polêmica peregrinação por chuva que, dias depois, coincidiu com precipitações, fato interpretado por alguns como um sinal positivo.
Juan José Omella – Espanhol, 79 anos, arcebispo de Barcelona, é próximo de Francisco e identificado com a justiça social. Missionário no antigo Zaire, trabalhou com instituições de combate à pobreza e teve ascensão rápida no episcopado. Liderou a Conferência Episcopal Espanhola e enfrentou o escândalo de abusos sexuais no país, tendo reconhecido falhas institucionais, mas minimizado o número de vítimas. Seu envolvimento com o círculo íntimo de Francisco pode contar contra ele se os cardeais optarem por ruptura.
Pietro Parolin – Italiano, 70 anos, é o mais cotado entre os diplomatas da Santa Sé. Secretário de Estado desde 2013, é considerado o “vice-papa”. Tem longa carreira diplomática, incluindo a embaixada na Venezuela e acordos controversos com a China. É visto como figura conciliadora entre alas opostas da Igreja. De fala mansa e discreta, Parolin representa a volta de um papa italiano após quase meio século. Sua experiência pastoral é limitada, mas sua fluência em várias línguas e habilidade diplomática são trunfos.
Luis Antonio Tagle – Filipino, 67 anos, é conhecido como o “Francisco Asiático”. Com sólida experiência pastoral e administrativa, liderou a Caritas Internationalis e o Dicastério para a Evangelização. Embora tenha sido afastado da Caritas em 2022 em meio a denúncias de má gestão, não estava envolvido nas operações diárias. Sua eleição representaria um marco histórico, como o primeiro papa da Ásia. Fala italiano e inglês, e sua origem filipina e chinesa simboliza a diversidade da Igreja global.
Joseph Tobin – Americano, 72 anos, arcebispo de Newark, Nova Jersey, é improvável como escolha, mas respeitado por sua condução transparente de escândalos na Igreja dos EUA. Redentorista, tem trajetória internacional, fala quatro idiomas e é favorável à inclusão LGBTQIA+. Conhecido por sua franqueza e humildade, é uma figura atípica e próxima dos fiéis.
Sua nacionalidade, porém, pode pesar negativamente em um cenário geopolítico complexo, onde a hegemonia americana causa receios para o Vaticano.

Peter Turkson – Ganês, 76 anos, é um dos nomes mais destacados da África. Combinando experiência pastoral e atuação no Vaticano, é reconhecido por sua visão sobre justiça social e meio ambiente. Foi chefe do Pontifício Conselho Justiça e Paz e lidera duas academias pontifícias. Em 2023, declarou ter rezado contra sua eleição como papa, mas suas frequentes aparições públicas levantaram suspeitas de campanha. Seria o primeiro papa da África Subsaariana na história moderna.
Matteo Zuppi – Italiano, 69 anos, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, é visto como o “Bergoglio italiano”. Popular entre os progressistas, tem forte envolvimento em ações sociais e de paz. Próximo da Comunidade de Sant’Egidio, atuou como mediador em Moçambique e, mais recentemente, em missões diplomáticas sobre a guerra na Ucrânia. Seu estilo pastoral acessível o aproxima de Francisco, mas a lentidão da Igreja Italiana em responder a casos de abuso pode pesar contra sua candidatura.