Após três dias de intensa volatilidade nos mercados globais — comparável aos primeiros momentos da pandemia de Covid-19 — os investidores observaram uma leve recuperação nas bolsas nesta terça-feira (8), apesar da ausência de avanços significativos na crise comercial provocada pelas tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump.
O índice S&P 500 registrou alta superior a 3% no início do pregão, compensando parte das perdas acumuladas nos dias anteriores. Na segunda-feira, o índice chegou a se aproximar de um território de “bear market”, com queda próxima a 20% em relação ao seu pico recente. Mesmo com a recuperação parcial, o S&P 500 permanece cerca de 15% abaixo do patamar em que se encontrava antes do anúncio das tarifas generalizadas contra os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Na tentativa de acalmar os investidores antes da abertura dos mercados, o governo chinês lançou uma série de medidas para sustentar o desempenho das ações locais. Como reflexo, os mercados de Hong Kong e da China continental registraram avanço de aproximadamente 1,5%, após quedas acentuadas — sendo que Hong Kong havia despencado 13,2% no pregão anterior.
No Japão, os mercados reagiram de forma ainda mais otimista, com alta de 6%, revertendo parte das perdas acumuladas nos dias anteriores. Em Taiwan, no entanto, o movimento foi inverso: as ações continuaram em queda e, após o encerramento do pregão, o Ministério das Finanças anunciou que ativará um fundo de estabilização de US$ 15 bilhões para conter a instabilidade nos mercados locais.
Na Europa, o índice Stoxx Europe 600 avançou 3%, com quase todas as principais bolsas da região operando no campo positivo. Apesar do impulso, o índice pan-europeu ainda acumula perda de cerca de 15% desde o pico registrado no início de março. Em entrevista à rádio francesa, Stéphane Boujnah, CEO da Euronext — que administra diversas bolsas europeias — afirmou que a interrupção nos mercados causada pelas tarifas tornou os Estados Unidos “irreconhecíveis” aos olhos dos investidores, muitos dos quais estariam transferindo capitais para a Europa.
As preocupações se intensificaram na semana anterior, após Trump anunciar a imposição de novas tarifas amplas: um imposto-base de 10% sobre importações norte-americanas e taxas ainda mais elevadas sobre produtos de dezenas de países. Diversas nações reagiram com tarifas próprias ou com ameaças de retaliação. A China respondeu na sexta-feira com vigor, igualando a nova tarifa de 34% imposta pelos EUA com uma medida equivalente sobre importações americanas.
Empresários e analistas demonstram crescente inquietação diante da escalada do conflito comercial, temendo danos prolongados à economia global. Alguns bancos já estimam que os efeitos negativos podem levar os Estados Unidos a uma recessão ainda este ano.
Reflexos dessas preocupações já são visíveis em indicadores internos. Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira apontou que a confiança entre pequenas empresas norte-americanas caiu pelo terceiro mês consecutivo. A parcela de empresários que esperam melhora nas condições econômicas apresentou a maior queda desde o fim de 2020.
O receio quanto ao crescimento global também repercutiu nos mercados de energia. O preço do Brent crude — referência internacional do petróleo — está sendo negociado em torno de US$ 65 o barril, bem abaixo dos US$ 80 registrados três meses atrás.
Apesar do cenário de tensão, o presidente Trump manteve sua retórica intransigente. Na segunda-feira, ele emitiu um novo ultimato à China, exigindo a retirada das tarifas retaliatórias impostas contra produtos dos EUA. Caso contrário, advertiu, novas tarifas de 50% entrariam em vigor a partir de quarta-feira (9). O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reforçou a postura do governo em entrevista à CNBC, afirmando que a China estaria cometendo “um grande erro” e jogando uma “mão perdedora”.
Mesmo diante da pressão, Pequim sinalizou que não cederá. Órgãos governamentais e empresas estatais prometeram garantir a estabilidade do mercado de capitais.
O Banco Popular da China, por sua vez, declarou apoio ao Central Huijin Investment — braço do fundo soberano chinês — que está ampliando suas participações em fundos de ações.
Além disso, dezenas de empresas, muitas controladas pelo governo, anunciaram programas de recompra de ações, medida que tende a elevar os preços e sustentar o mercado em momentos de instabilidade.