“Nunca vi Brasil e EUA tão distantes”, afirma ex-presidente do Banco dos Brics

Secretário especial de Comércio Exterior entre 2019 e 2020, Marcos Troyjo vê poucas chances de uma reaproximação.


Ex-presidente do Banco dos Brics e peça-chave da política comercial no governo Jair Bolsonaro (PL), o economista Marcos Troyjo avalia que as relações Brasil-EUA vivem seu pior momento em quatro décadas.

Em entrevista à emissora CNN, Troyjo afirmou enxergar uma distância de “anos-luz” entre os governos de Brasília e Washington.

“Eu não consigo me lembrar, nessas mais de quatro décadas, de um momento em que as duas maiores democracias do Ocidente, as duas maiores economias do continente americano estivessem tão distantes quanto agora”, declarou.

Secretário especial de Comércio Exterior entre 2019 e 2020, Troyjo vê poucas chances de uma reaproximação.

“Há uma separação que só pode ser medida em anos-luz. E eu sinceramente acho difícil essa conexão. Não apenas por conta do estilo, da ideologia, dos objetivos do governo brasileiro. É também por conta da conjuntura e da visão de mundo da atual administração americana.”

Nesta semana, pela primeira vez, houve um contato direto entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump.

O vice-presidente Geraldo Alckmin conversou por 50 minutos com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e com o representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer, sobre barreiras a produtos como aço e alumínio.

Diante das diferenças, Troyjo sugere um foco maior em alianças empresariais.

“Nós teremos que ser mais criativos do que apenas utilizar os canais diplomáticos tradicionais ou mesmo o sistema multilateral de comércio. Os produtores brasileiros têm que criar alianças com os compradores americanos.”

“Os EUA são o principal destino dos nossos bens de maior valor agregado. Os compradores americanos querem mais fornecimento do Brasil. Precisamos estar em conversa para que o peso relativo da voz deles se faça ouvir em Washington.”

Ex-diplomata, Troyjo voltou aos EUA como professor da Universidade de Columbia após deixar o Itamaraty.

Em 2020, assumiu o comando do Banco dos Brics, mas saiu em 2023, após pressão do governo Lula para sua substituição por Dilma Rousseff.