Governo Lula avalia reduzir tarifa do etanol e usar tema em negociações com os EUA

Atualmente, a taxa brasileira sobre o etanol é de 18% e já foi alvo de críticas de Trump. Uma redução para zero — ou algo próximo — passou a ser considerada.


Pressionado por Donald Trump e sua promessa de adotar tarifas recíprocas, o governo Lula avalia reduzir a alíquota de importação do etanol. A medida facilitaria a entrada do biocombustível americano e serviria como instrumento de negociação com os EUA.

Atualmente, a tarifa brasileira sobre o etanol é de 18% e já foi alvo de críticas de Trump. Uma redução para zero — ou próximo disso — passou a ser cogitada.

“Seria uma forma de colocar a queda da tarifa na mesa de negociações com os Estados Unidos, em vez de apenas reduzi-la de forma unilateral”, afirmou uma fonte do governo à emissora CNN.

Além do aspecto comercial, a entrada de mais etanol de milho americano poderia reduzir o preço da gasolina no Brasil, aliviando a pressão inflacionária.

O governo, porém, considera o impacto político junto aos usineiros, setor historicamente crítico ao PT.

No governo Bolsonaro, a alíquota de importação do etanol foi reduzida para conter os preços dos combustíveis, mas voltou a 18% em 2023.

Agora, o contexto é outro. O Nordeste, onde a produção é mais cara, inaugurou projetos importantes nos últimos anos e estaria mais preparado para enfrentar a concorrência do etanol americano.

Ao mesmo tempo, o Brasil estuda elevar de 27% para 30% a mistura de etanol anidro na gasolina.

“O aumento do teor foi permitido pela Lei do Combustível do Futuro, sancionada em 2024. Montadoras realizam testes e uma decisão pode ser tomada ainda no primeiro semestre”, explicou uma autoridade do setor.

A elevação da mistura geraria demanda adicional de até 1,4 bilhão de litros de etanol por ano, reduzindo o impacto da abertura do mercado.

Trump impôs tarifas de 25% sobre aço e alumínio importados, afetando exportações brasileiras de quase U$ 3 bilhões anuais.

Nesta quinta-feira (6), o vice-presidente Geraldo Alckmin conversará com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sobre o tema.

No Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a prioridade é retirar o aço e o alumínio das sobretaxas. Se a redução da tarifa do etanol avançar, será usada como moeda de troca nessas negociações.

Já o Ministério da Agricultura vê uma oportunidade de pressionar os EUA por concessões agrícolas.

Duas demandas são mencionadas: maior acesso para o açúcar brasileiro, que enfrenta cotas rígidas, e a reabertura do mercado americano para limões.

A sensibilidade eleitoral do etanol nos EUA fortalece o Brasil.

O “Corn Belt” – principal região produtora de etanol – é base eleitoral de Trump.

Dos seis estados que o compõem, cinco votaram no republicano em 2024 – Iowa, Nebraska, Missouri, Indiana e Kansas. Kamala Harris venceu em Illinois.