Astronautas da NASA negam influência política em permanência prolongada na ISS e respondem a Elon Musk

A entrevista foi adiada pela NASA em uma semana após polêmicas envolvendo Musk e Trump.


A NASA realizou na terça-feira (4) uma entrevista coletiva com os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, que tiveram sua permanência na Estação Espacial Internacional (ISS) estendida de oito dias para meses, após problemas com a cápsula Starliner, da Boeing, que os levou ao espaço em 5 de junho do ano passado. Segundo eles, a decisão de mantê-los por tanto tempo na estação teve motivação puramente técnica.

“Do nosso ponto de vista, política não teve nenhum papel”, afirmou Wilmore. “Para nós, foi meio como uma transição suave entre a missão original e a incorporação à Expedição 72.”

A declaração contraria uma afirmação recente de Elon Musk, dono da SpaceX e conselheiro de Donald Trump. Ele sugeriu em sua rede social X que a gestão Biden manteve os astronautas na ISS por razões políticas.

Apesar da negação, Wilmore e Williams evitaram antagonizar líderes americanos. “Ouvimos algumas coisas por aqui, temos todos o máximo respeito por Elon Musk e respeito e admiração pelo nosso presidente, Donald Trump”, disse Wilmore. “O que eles disseram faz parte da política. Nós vivemos um dia a dia aqui que eles podem não conhecer.”

A entrevista foi adiada pela NASA em uma semana após polêmicas envolvendo Musk e Trump. Primeiro, ambos insinuaram que os astronautas foram abandonados à própria sorte. Depois, Musk defendeu que o projeto da ISS fosse encerrado antes de 2030, apesar do acordo internacional para sua manutenção.

Para Suni Williams, isso seria um erro. “Estivemos aqui desde o começo, vimos a estação crescer de um par de módulos para este incrível laboratório”, disse. “Estamos no nosso auge agora. Temos eletricidade, instalações. Provavelmente agora não é a hora de dizer ‘acabamos’.”

Outro tema político surgiu na coletiva quando questionaram a declaração de Janet Petro, administradora interina da NASA nomeada por Trump. Ela disse que o pouso do módulo Blue Ghost no domingo (2) estava alinhado com o slogan “manter a América em primeiro lugar”, contrastando com o discurso tradicional da agência sobre cooperação internacional.

Nick Hague, comandante da Crew-9, respondeu. “A ISS é um exemplo de trabalho internacional e de como conseguimos mais juntos do que sozinhos.”

Outra pergunta abordou Musk, que afirmou que a SpaceX ofereceu à administração anterior um voo para trazer Wilmore e Williams mais cedo, mas a oferta foi recusada.

“Nós não temos nenhuma informação sobre isso, o que foi oferecido, o que não foi, a quem foi. Então, eu acredito nele”, declarou Wilmore.

Logo depois, o departamento de comunicação da NASA interveio, pedindo que as perguntas se concentrassem na missão, com a promessa de indicar um especialista para esclarecer o assunto.

No fim, os astronautas expressaram satisfação com a longa estadia no espaço, mas reconheceram o impacto em suas famílias. “É uma montanha-russa para eles, mais do que para nós”, disse Williams. “Nós estamos fazendo o que fomos treinados para fazer. Mas, para eles, a parte mais difícil é não saber quando voltaríamos.”

Agora, já há uma previsão. O retorno deve ocorrer até o fim do mês. “Tenho dois labradores, que ficarão felizes quando a mamãe voltar”, disse Williams, mostrando a tatuagem da pata de um de seus cães no braço.

A astronauta não gosta de pensar que esta pode ter sido sua última viagem ao espaço. “Não me lembre que pode ser meu último voo. Tento não pensar muito nisso.”

Quando perguntados sobre o futuro, ambos demonstraram entusiasmo. “Vamos para a Lua e para Marte. Esse é o meu plano”, afirmou Wilmore.